A prática da vigilância é a arte de tomar todo o cuidado para permanecer de pé e proteger-se de uma eventual queda por estar continuamente de sentinela diante da tentação
Para proteger o gado, a lavoura e os centros urbanos, os judeus construíam as chamadas torres de vigia nos pastos (Mq 4.8), nas vinhas (Is 5.2) e nas cidades (Sl 127.1). Em alguns casos, uma torre se distanciava da outra apenas trinta e dois metros, para melhor segurança da população. De forma paralelepipedal ou cilíndrica, as torres eram construídas dois metros à frente do muro ou em cima dele. Na época de Esdras e Neemias, havia uma torre em Jerusalém chamada Torre dos Cem – talvez porque tivesse cem côvados de altura, ou porque fosse alcançada por uma escada de cem degraus, ou ainda porque reunisse uma guarnição de cem homens (Ne 3.1). As torres serviam de proteção contra animais selvagens, ladrões e exércitos invasores. A vigilância era de dia e de noite e os guardas ansiavam pelo romper da manhã (Sl 130.6). A necessidade de vigilância estava tão arraigada que, ao plantar uma vinha, era costume construir não só a cerca e o lagar, mas também a torre de vigia, assegurando assim a posse dos frutos (Mt 21.33).
Os verbos estar de pé e cair
A vigilância não deve ser confundida nem com o medo nem com a ansiedade. É apenas uma dose equilibrada de cuidado, recomendada sabiamente por Paulo: “Quem hoje se sente seguro de sua posição, acautele-se para amanhã não cair.” (1Co 10.12 tradução de J.B Philips.) Depende primeiramente de uma avaliação pessoal nem muito otimista nem muito pessimista. Por meio da vigilância, o crente permanece em estado de alerta o tempo todo, enxerga o engano da auto-salvação e se entrega aos cuidados de Deus. É um exercício da natureza preventiva, que associa a humildade com a prudência.
Vigilância espiritual
Jesus insiste muito na prática da vigilância. O imperativo vigiai aparece três vezes na parábola da figueira (Mc 13.33, 35, 37), uma vez na parábola das dez virgens (Mt 25.13) e duas vezes na cena do Getsêmani (Mc 14.34, 38). O texto de Mc 13.37 é muito enfático: “O que, porém vos digo, digo a todos: vigiai!”
“Para proteger o gado, a lavoura e os centros urbanos, os judeus construíam as chamadas torres de vigia nos pastos (Mq 4.8), nas vinhas (Is 5.2) e nas cidades (Sl 127.1).”
A ordem para vigiar não está apenas no ensino de Jesus. Encontra-se também em Paulo, tanto no discurso dirigido aos presbíteros de Éfeso (At 20.31) como nas cartas endereçadas aos Coríntios (1Co 16.13) e aos Tessalonicenses (1Ts 5.6). Aos cristãos judeus expulsos de Jerusalém e espalhados pelo Ponto, pela Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, Pedro escreve: “Sede sóbrios e vigilantes.” (1Pe 5.8.) A igreja em Sardes recebe a mesma exortação (Ap 3.2). Depois de glorificado, Jesus declara que é “bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua vergonha” (Ap 16.15).
Torres e cisternas
Jesus associou o verbo vigiar com o verbo orar: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” (Mt 26.41.) São duas atividades que se misturam e se completam. Não basta orar: é preciso vigiar cuidadosamente. Não basta vigiar: é preciso orar para alcançar sabedoria e poder para vencer tentações e provações.
A Bíblia diz que o rei Uzias edificou torres de vigia no deserto e cavou muitas cisternas, porque tinha muito gado, tanto nos vales como nas campinas (2Cr 26.10). Esta associação entre torres e cisternas coincide com a associação entre vigiar e orar. O gado de Uzias precisava de proteção e de água. O rebanho de Deus também precisa de vigilância e comunhão. Precisa de vigilância para não ser despedaçado por lobos vorazes (At 20.29), nem levado por ladrões que roubam matam e destroem (Jo 10.10). Precisa de comunhão para que sua profunda sede de Deus seja saciada (Sl 136.6). Vigiar sem orar seria muito cansativo e poderia redundar em perniciosa arrogância. Orar sem vigiar seria uma temeridade.
Áreas de vigilância
1. É preciso vigiar a passagem obrigatória da palavra: “Põe guarda, SENHOR, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios.” (Sl 141.3.)
2. É preciso vigiar a mente: “[...] tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.” (Fp 4.8.)
3. É preciso vigiar o olhar: “Não porei uma coisa vil diante dos meus olhos.” (Sl 101.3)
4. É preciso vigiar o patrimônio religioso: “Segura com firmeza o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.” (Ap 3.11.)
5. É preciso vigiar o trato dispensado ao sexo oposto: “trate [...] as mulheres jovens como irmãs, com toda a pureza.” (1Tm 5.2.)
6. É preciso vigiar o tempo: “Procedei [...] como pessoas esclarecidas, que tiram proveito do tempo presente, pois estes dias são maus.” (Ef 5.16.)
7. É preciso vigiar as oportunidades: “Se você pode se tornar livre, então aproveite a oportunidade!” (1Co 7.21.)
8. É preciso vigiar o amor: “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor.” (Ap 2.4.)
9. É preciso vigiar a fé: “Examinem-se para descobrir se vocês estão firmes na fé.” (2Co 13.5.)
10. É preciso vigiar as intenções, os meios, a qualidade do trabalho, a correção doutrinária e o zelo: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (2Tm 2.15.).
11. É preciso vigiar as coisas tidas de somenos importância: “peguem as raposas, apanhem as raposinhas, antes que elas estraguem a nossa plantação de uvas, que está em flor.” (Ct 2.15.)
12. É preciso vigiar especialmente os calcanhares de Aquiles, aquelas áreas mais vulneráveis que estão no fundo do coração humano: “O que sai do homem, isso é o que o contamina.” (Mc 7.20.)
Jesus te Ama !!!
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